Mate seu único filho e ofereça como sacrifício. Esse foi o pedido direto de deus à Abraão:
“Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas (Gênesis 22.2).”
Que climão hem! Pelo menos pra mim. Para Abraão nem tanto.
A tradição bíblica diz que isso fazia parte de um teste pra provar a fé daquele que seria conhecido como o pai da fé. Perece que o cara passou com louvor.
Conta-se que ele levanta bem cedo e sem questionar vai com o filho até o local escolhido e o amarra para sacrificá-lo, no entanto, ao levantar o cutelo pra executar a tarefa, Deus brada dos céus e diz:
“Não estendas a tua mão sobre o menino e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho (Gênesis 22.12).
Ou Deus é um brincalhão ou um carrasco. Só pode.
É o que pensariam aqueles que leem a “horrível” tradução da bíblia do hebraico pro português. Toda tradução é uma traição. Por mais bem-feita que seja, nem sempre as palavras e intenções tem o mesmo sentido na outra língua. Um tipo de telefone sem fio saca!
Diferente do que se pensa, especialistas no original bíblico dizem que quem pede o sacrifício é UM deus, e, quem pede misericórdia é ELOHIM. Um dos nomes de Deus na bíblia.
Deixe-me explicar…
Em síntese, no texto original, no versículo 2 que citei, consta que quem pediu o sacrifício foi um deus com letra minúscula. Assim como coloquei no texto (não percebeu né? Tudo bem!). Logo, poderia ser qualquer voz de “deuses que Abraão adorara no passado”. Já no versículo 12, também citado, o texto original diz que quem pede a misericórdia é Elohim, ou nas melhores traduções: o Anjo do Senhor. Anjo e Senhor com letras maiúsculas.
Ufaa! Agora Deus ficou bem na fita!
Acabei de salvar um dos textos mais polêmicos e mal interpretados de toda à bíblia.
Já pensou se esse papo de pedir filho em sacrifício vira moda?!
Se bem que Jesus foi o sacrifício de um filho primogênito em favor da humanidade. Pode-se dizer que ele tenha sido um verdadeiro Boi de piranha (explicarei adiante) ou, em teologia mais fina que a minha; um bode expiatório.
Justiça seja feita. Diferente de Isaque que foi salvo no último minuto por Elohim, o Cristo foi crucificado como herege, em nome da tradição, pela mesma galera que o veneraram quando entrou pela primeira vez na terra santa (João 12.13).
E foi seu pai (Deus) quem permitiu.
Um sacrifício vicário. Substitutivo. Segundo a bíblia cristã: o justo pelo injusto. A Morte de um para a salvação de todos.
Mas esse é um papo pra outra hora.
O mundo novo é outro. Mais moderno, colaborativo e racional. Há séculos não enforcamos, muito menos crucificamos humanos em praça pública. Isso mudou.
No entanto, a filosofia do boi de piranha ainda é empregada no século XXI.
Boi de piranha é aquele que se submete ou é submetido a um sacrifício para livrar outra pessoa de uma dificuldade ou da culpa”. A expressão surgiu da necessidade de atravessar o gado em rio com piranhas.
O boiadeiro escolhe um animal velho ou doente e o coloca na água em local acima ou abaixo do ponto de travessia. Enquanto as piranhas devoram o boi escolhido, os demais passam pelo rio e seguem na jornada.
No mundo corporativo, quando uma área vai mau e os resultados não vem. Seja porque o líder decidiu errado ou, como é mais comum, não tomou as decisões que deveriam ser tomadas, ou mesmo porque o time não está tão preparado, a pressão vem, e, alguma justificativa pelo fiasco precisa ser apresentada.
Diante dessas situações caóticas, grandes líderes assumem o erro, fazem a leitura do clima, traçam um plano de ação e preparam o time pra mudar o cenário ruim, na tentativa de não ter que sacrificar nenhum membro da equipe.
Já os líderes medíocres (e são muitos), esses, escolhem um ou dois membros do time para culpar, podendo atribuir responsabilidades do tipo:
Lançado o boi escolhido na água, o “boiadeiro com sua boiada” ganha nova chance.
Até chegar ao próximo rio pelo menos.
Na maioria das vezes a estratégia dá certo.
O líder que errou no último ano passou apuros pra se explicar. Está mais experiente para o próximo ciclo e sabe que mais um ano sem resultados pode fazer dele mesmo o próximo boi de piranha.
Desse modo irá focar. Medir. Acompanhar. Trabalhar muito mais para que o resultado venha.
Claro que pode não dar tão certo assim, mas aí, o “canalha” sabe que tem mais alguns bois no “rebanho”…
Pode ser que você esteja lendo isso e fique puto. Chateado. Inconformado.
Quem sabe você já tenha sido boi de piranha alguma vez na vida. Ou quem sabe você tenha entregado bois para as piranhas. Que feio hem moço!
Seja como for, será que, diferente do mundo irracional onde o boi que é lançado as piranhas não tem necessariamente culpa por ter ficado velho ou por ser o mais fraco, no mundo racional; o dos humanos, não somos coparticipantes do sacrifício?
Na natureza nem sempre, mas no mundo corporativo aquele que foi sacrificado não é totalmente inocente.
Penso não ser via de regra, contudo, o escolhido é sempre o mais fraco, velho (obsoleto), cansado e às vezes preguiçoso.
Por pior que seja o líder, ele não sacrificaria seu melhor recurso. Seria suicídio.
Ele escolherá sempre o que fará menos falta. Salvo se não puder escolher. Às vezes a decisão vem de cima. Mas, mesmo nesse viés, o erro é também do sacrificado.
Fazer mais e melhor. Transitar com mais habilidade entre as hierarquias se reinventando o tempo todo, é questão de sobrevivência.
Em um mundo que muda rápido como o que vivemos, você não pode ser um frequentador de escritório, fábrica ou qualquer outro lugar que trabalha.
Existem pessoas que são batedores de ponto. Pensam que o valor está em nunca faltar, chegar cedo, sair tarde e realizar bem sua função. Não basta.
Tudo isso é obrigação.
Se quer ser alguém raro e que fará falta, faça o que a maioria não faz: entregue valor, reduza os custos, melhore a eficiência, empreenda internamente, fique atento, se atualize sempre e saiba vender suas conquistas.
Desse modo não virará boi de piranha.
Eu sei que é duro e gera polêmica dizer isso. Pois essa é apenas uma face da moeda.
Assim é a vida: você é um produto que está na prateleira corporativa. Tem que estar sempre relevante e gerando valor. Se assim não for, outro ocupará seu espaço.
“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e reaprender [Alvin Toffler]”.
Esforce-se por sempre fazer o seu melhor, na condição que tem, enquanto não tiver condição melhor pra fazer melhor ainda.
Lembrando sempre que existe uma força maior, que nunca preza, nunca prezou e nunca prezará por sacrifícios. Ele; ELOHIM; o carpinteiro deste universo, sempre pedirá por misericórdia.
No entanto, faça sempre sua parte!
Até a próxima!
Achiles Rodrigues