Cresci ouvindo meus pais dizerem — estude, estude tanto até ter diplomas pra colocar no currículo, arrumar um emprego em uma grande empresa e ser alguém na vida.
Na escola os professores falavam a mesma coisa. Foque nas “respostas certas” dos livros, leia até decorar tudo pra passar no vestibular. Então, terá um diploma e chances maiores de entrar para uma grande corporação.
Na igreja que frequentei na adolescência o sacerdote tinha discurso semelhante, mas agora com mais propósito: ter um emprego bom significava ter condições pra constituir uma família legalzona (o legalzona é meu, pra não deixar o texto chato).
Então tá.
Fiz como todo mundo mandou, consegui os diplomas e fui atrás do quarto P da minha vida — o Patrão.
Deixe-me facilitar pra você que tá tentando achar os outros três P’s. Tão lá em cima: Pai, Professor e Padre/Pastor.
Voila! Depois de algumas entrevistas e trabalhos “menos importantes”, encontrei. Caiu no meu colo o emprego que me fizeram sonhar a vida toda.
Com mochila nas costas, sorriso no rosto e o coração pra explodir de alegria, lá fui eu para o meu primeiro dia.
Trabalho de gente grande rapá, igualzinho aqueles que a gente vê nos filmes — mesas enfileiradas, telefones tocando e um monte de gente bonita. Quer dizer, bem vestidas.
Homens alinhados, com camisa dentro da calça e alguns de gravata. Esses devem ser os chefes, pensei. Depois descobri que era a galera do jurídico. Moças arrumadíssimas, bem maquiadas, com salto alto, cabelos bem feitos e batons de todas as cores.
Caraca maninho. Cheguei no mundo corporativo. Uhuuu!
Ganhei uma mesa, um crachá, um notebook, uma equipe e um chefe — fui acolhido em uma nova família.
Com você essa experiência também foi assim? O primeiro dia é meio igual pra todo mundo, não é?! Mesmo que não seja escritório. Bom, eu acho!
Enfim, já faz algum tempo, mas me recordo bem da sensação.
Satisfação. Essa é a palavra. Mas, com um misto de felicidade por ter chegado onde disseram que eu deveria chegar.
Agora é trabalhar muito, junto com essa galera top, nesse lugar maneirão, que o sucesso virá a galope.
Finalmente, meu ciclo estava quase fechado (que medo).
Infelizmente, o efeito lua de mel durou só alguns meses.
Meus olhos abriram assim que as escamas românticas da ingenuidade caíram. Fui apresentado pra vida como ela é (cara eu deveria escrever romance. Rs).
O líder da área no dia a dia, e, meus pares nas conversas de almoço e café, fizeram questão de me dizer como tudo funcionava:
Sorrisos em excesso? Vai perecer um idiota. Amizades no escritório? Aqui todos querem puxar seu tapete. Expor suas próprias ideias? Cautela. Falar o que pensa? Suicídio. Escolher seu jeito de se vestir? Siga o que os gerentes vestem. Falar com o chefe? Só se ele te perguntar alguma coisa. E por último; finja estar ocupado o tempo todo.
Se bom ou ruim, fui enformado com tudo isso. Enformado com “E” mesmo. Colocado na forma corporativa.
E eu que queria ser feliz, o palhaço, comecei a pensar que o sorriso que podia estampar seria apenas aquele que carregava no peito, estampado no crachá.
Roubei essa frase do poesia “Maldição de ser feliz” do Reverb. No trecho abaixo, qualquer semelhança com o mundo corporativo não é mera coincidência.
Com diplomas e um currículo em seu repertório. Chega o circo de horrores chamado o escritório. Lá sua fantasia é mais uma entre tantas. O domador enjaulado que mata um leão por dia. O malabarista desiquilibrado fazendo acrobacia. A engolidora de sapos com o nó na garganta. A atiradora de facas com a língua afiada explica a regra do jogo. Ninguém contraria o chefe porque ele cospe fogo. Mas aparece o ilusionista anunciando a sexta feira. E o palhaço que perdeu a alegria procurando se encontrar. Leva no peito um sorriso estampado no crachá.
Há pouco anos me dei conta que estava no armário corporativo. Na forma que me colocaram. Eu era mais um.
Falava a linguagem gourmetizada do mundo corporativo. Pensava os mesmos pensamentos. Tinha comportamentos espelho. Defendia as mesmas ideias.
A felicidade só existe no modelo 5×2: cinco dias de tristeza (segunda a sexta) e dois dias de alegria (sábado e domingo). E pra piorar, segundas-feiras deixam em pânico quem vive esse modelo.
E as DPT’s? Já ouviu falar?
São as Doenças Profissionalmente Transmissíveis.
Os sintomas geralmente são percebidos nos cafés, copas, banheiros, barzinhos, nos cantos.
E se manifestam em palavras do tipo:
Meu chefe é um b*st@, não ganho o que mereço, essa empresa é ruim, a comida é sem sal, o convênio médico é horrível. Aqui a gente não cresce, não dão oportunidade, todo mundo quer puxar seu tapete, guarde esse sorriso. Eu faço minha parte e pronto. Não sou pago pra isso, faço até demais por quanto me pagam.
Se você anda proferindo qualquer umas das frases acima, ferrou. É possível que esteja contaminado com DPT. Coisas comuns de profissionais CLTretas.
Mas não precisa ser assim com você.
A maldição de ser feliz é obrigação de ser normal. E o que é concebido como normal é estar no norma, na média, seguindo os padrões pré-estabelecidos de comportamento.
Talvez, a sua anormalidade seja seu grande diferencial.
Não foi a toa que Niltinho, para o mais íntimos é claro, disse que:
“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música”.
Nietzsche sabia das coisas. O sistema quererá enformar aqueles que pensam e agem de modo diferente. E tudo bem, a maioria não estão na mesma sintonia que você, não estão ouvindo e mesma música. Respeite isso, ame as pessoas, mas não se anule.
Desenforme-se. Saia do armário corporativo.
Nasci com a tal maldição de ser feliz e, como não dá pra ser feliz dentro de um armário corporativo, decidi ser eu mesmo.
Com todos os ônus e bônus.
Mas antes de continuar a prosa, se não viu ainda, dá uma olhadinha na poesia dos caras do Reverb (não tô ganhando nada divulgando, salvo a beleza da poesia):
O sistema tem clamado por pessoas originais. Empresas cada vez mais buscam a pluralidade, os diversos.
Pesquisas aos montões vem falando que uma equipe de sucesso é composta por: pretos, brancos, homens, mulheres, sulistas, nordestinos, homossexuais, engenheiros, filósofos, administradores, psicólogos, jovens, velhos…
Ou seja, o mercado quer VOCÊ. Exatamente como você é. Mas você ainda insiste em ser igual a todo mundo.
Saia do armário. Seja você.
Eu, Achiles Rodrigues, onde trabalho, ando pelo escritório cumprimentando todo mundo, abraçando as pessoas, sorrindo pra quem eu sinto vontade.
Exponho minhas ideias e filosofias a respeito da vida e do trabalho. Não tenho vergonha de expor meus sentimentos. Me comunico e me relaciono com meu time, meus pares, acima e abaixo como de fato sou.
Me visto como quero na medida do possível. Lógico que obedecendo ao dress code do ambiente e da próxima posição que quero ocupar.
Não tenho a pretensão de dizer-lhe que existe hierarquia organizacional. Nunca existiu, não existe. E não irá existir. A visão, missão e o conjunto valores a serem seguidos são do seu empregador.
A relação de emprego é um acordo de cavalheiros, onde trocamos nossa força de trabalho, nosso tempo, que não é renovável e toda nossa habilidade cognitiva por grana.
Enfim, você entendeu que a analise não é romântica, mas racional.
Sendo eu mesmo, alguns me amam, outros me acham estrambótico. E tá tudo bem. Assim é a vida.
Claro que, por outro lado, sou um profissional antenado. Leio pelo menos quinze páginas de um livro por dia. Escrevo um artigo por fim de semana para um de meus blogs de logística e liderança (é sábado de manhã e estou agora aqui).
Sou colunista da revista mundo logística. As vezes gravo um os dois vídeos pro meu canal no Youtube e tudo isso, confesso, com um interesse egoísta: quando eu ensino eu gravo os conceitos, ou seja, me atualizo.
Por que estou dizendo isso? Não é pra perecer f*d@o.
Mas para deixar claro que existe uma “auto responsabilidade” de entregar um profissional e um ser humano relevante para a sociedade.
O tio Freud disse que “Amor e trabalho são os pilares da nossa humanidade”.
Eu amo trabalhar.
Perceba que o que disse não foi que amo meu trabalho ou emprego, apesar de gostar demais. Mas que amo trabalhar.
Emprego é fonte de renda e Trabalho é fonte vida.
Mario Sérgio Cortella, no livro “Qual é a tua Obra” nos mostra o trabalho a partir da noção grega Poiesis — uma obra a ser elaborada.
“Seja sua obra aquela que você faz para continuar existindo, seja para ter o seu reconhecimento. Eu me vejo naquilo que faço, não naquilo que penso.”
Parece muito romântico tudo isso, e talvez seja, mas voltemos a Sigmund Schlomo Freud, Amor e trabalho são os pilares da nossa humanidade (não o emprego).
Amor pelo que se faz é decisão e não sentimento. Desde que o amor seja o Ágape: amor a membros da família, de um grupo com afinidades ou uma afeição para uma atividade particular em grupo.
Não é possível separar vida e trabalho. Não existem dois profissionais. Um na dimensão do trabalho e outro na pessoal. A vida passa no meio de tudo isso.
Coragem pra liderar a própria carreira e estilo de vida.
Imagine tudo que você teria feito até hoje se o medo não te paralisasse?
Os psiquiatras, psicólogos e psicanalistas costumam dizer que falar em publico é o maior medo da maioria das pessoas.
Divirjo.
Na verdade, por trás desse medo está: o que vão pensar de mim se eu errar, se mostrar minha humanidade. E se eu travar e não lembrar de nada. E se não gostarem. E se rirem de mim?
No fim do dia que está na mesa é a pré-ocupação do que vão pensar de mim?!
O medo.
Traumas alimentados pelos 4 P’s que falamos no começo do texto. Lembra?
Pai, Professor, Padre ou Pastor e Patrão:
Esses são exemplos simples de como fomos sendo travados, enformados e colocados no armário durante toda a nossa vida.
O Tio Jean-Paul disse que:
“Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.
O que Sartre estava pedindo é para deixarmos de culpar o mundo em nossa volta, arregaçar as mangas, pegar tudo o que nos aconteceu e transformar em combustível para vivermos felizes e bem-sucedidos.
Forte, não é?!
Viver não pode estar condicionado a estudar 18 ou 20 anos, arrumar um emprego das 08 as 18hs pra aposentar depois de 35 anos de contribuição e depois morrer sem ter vivido.
É preciso liderar a nossa própria história, carreira, destino. Através de bom network e ambientes que nos influenciem, afinal, somos a média das pessoas que convivemos e ambiente que frequentamos.
A vida é aqui e agora, fazendo tudo. Estudando, trabalhando, empreendendo, amando, encantando, inovando, testando, errando, acertando, chorando, sorrido. E tudo isso; junto e misturado.
Portanto, Saia do armário, seja mais feliz, viva mais leve!
Até a próxima!
Achiles Rodrigues