O que você faz para manter-se motivado e enfrentar os desafios do cotidiano? Como motiva as pessoas a trabalhar, bater metas, estudar, a se superarem? A motivação é algo extrínseco ou intrínseco?
Motivação (do Latim movere , mover): é a orientação para um objetivo. Em outras palavras, é o estímulo que integra a força/vontade interior e que produz o comportamento, a ação e o esforço .
Todas essas perguntas podem ser facilmente respondidas, se, estímulos externos são a única coisa que conhecemos para motivar. Basta oferecer “cenouras” — prêmios, promoção, boa remuneração, recompensas e bônus . Se isso não funcionar que tal o “chicote” — ameaça de perder o bônus anual, o emprego, o status social, os benefícios?
Qual o problema com estes mecanismos?
Desde um estudo realizado sobre os comportamentos dos primatas em 1949, eles não se sustentam mais de pé. Harry F. Harlow, um antigo professor da Universidade de Wisconsin, realizou uma experiência de duas semanas, com oito macacos rhesus, relacionado à aprendizagem.
Ele apresentou um problema mecânico aos macacos, relativamente simples de resolver, partindo do pressuposto que estes iriam levar alguns dias para encontrar a solução. No entanto, os macacos levaram muito pouco tempo a perceber o funcionamento do objeto, e dias depois do início da experiência resolviam o problema automaticamente, com frequência e rapidez.
O que mais surpreendeu os investigadores foi o fato de os macacos terem resolvido o enigma sem que lhes tenha sido dado qualquer tipo de recompensa extrínseca como comida ou afeto.
Desta experiência conclusões importantes foram tiradas: a solução do problema não estava atrelada à qualquer tipo de compensação biológica, como a comida ou qualquer outro mecanismo de recompensa ou punição. Assim, Harlow propôs uma nova teoria da motivação, a qual o mesmo designou de “motivação intrínseca”: “Os macacos resolveram os enigmas simplesmente porque achavam gratificante resolver enigmas. Gostavam de o fazer. O prazer de o fazerem era a própria recompensa.” (Pink, 2009:15).
Mas e se algum incentivo fosse dado aos macacos?
Foi o que Harlow fez em seguida para confirmar sua teoria, testou a segunda motivação, oferecendo uvas passas aos macacos que conseguissem resolver o enigma. Acontece que os macacos cometeram mais erros e não resolveram o problema de maneira tão eficaz como na primeira experiência em que nada lhes foi dado em troca. Harlow então concluiu que, o fato de ter introduzido comida (recompensa) na sua experiência, afetou negativamente o desempenho dos macacos.
A MOTIVAÇÃO NO FENÔMENO WIKIPÉDIA
Diante da lógica cenoura & chicote (recompensa x punição) como mecanismo motivador, como explicar a motivação por trás da criação da enciclopédia virtual livre Wikipédia, onde dezenas de milhares de pessoas produzem e reeditam artigos para o site por vontade própria e prazer?
Sem receber qualquer quantia pelo trabalho, pessoas por todo o mundo, disponibilizam tempo e conhecimento gratuitamente. Um projeto que ainda hoje é sucesso total, mesmo condicionado a vontade gratuita das pessoas. Em contrapartida, uma empresa concorrente, a Microsoft Encarta, criada em 1993, e que contava com o trabalho de autores e editores muito bem remunerados, foi descontinuada em 2009. Isso mesmo, faliu.
Existe uma defasagem entre aquilo que a ciência sabe e aquilo que as empresas praticam? Que tipo de motivação está por trás dos referidos exemplos dos macacos e da Wikipédia, quando o desejo de fazer não é motivado por recompensas ou punições, tampouco por necessidades básicas (como constante na teoria da pirâmide de necessidades de Maslow)?
Para Daniel Pink, autor do livro Motivação 3.0, houve uma evolução “natural” dos gatilhos responsáveis pela motivação. Segundo ele, os humanos e as sociedades desenvolveram sistemas operacionais motivacionais, que foram construídos em torno de motivadores externos — tipo “cenoura e chicote” — mas que não funcionam mais, e, em geral, prejudicam o comportamento:
Motivação 1.0: Levado por essa motivação, o homem há 50 mil anos atrás, tinha uma preocupação principal: a de sobreviver. Em busca de alimentos, água e um local protegido para dormir. Existia também a obrigação de repassar seus genes, através da reprodução. A necessidade de sobrevivência era o o fator motivacional dos humanos séculos atrás. Porém, esse cenário sofreu mudanças desde a era da industrialização, momento em que o homem passou a confiar em um novo incentivo para a produção. Nasce então a motivação 2.0.
Motivação 2.0: chega à nova maneira de estimular. A metáfora; “o chicote e a cenoura”, cuja estratégia é recompensar o comportamento positivo e punir o negativo.
Confiantes na “motivação extrínseca”, chefes partem do princípio de que, se seus funcionários não forem direcionados pelos efeitos da “cenoura” e da “chibata”, eles não terão interesse algum pelas atividades que exercem e, por consequência, fugirão das suas obrigações.
Uma motivação construída em torno de recompensas e punições, talvez tenha funcionado bem para as tarefas rotineiras do século XX, no entanto no século XXI, a motivação 2.0 está se mostrando incompatível com nossa forma de organizar o que fazemos e de fazer o que fazemos. Precisamos de um upgrade: a motivação 3.0.
Motivação 3.0: A motivação 3.0 é a força intrínseca. Quando alguém encontra um trabalho que o faz sentir-se completo, nenhuma remuneração é fundamental em si mesma, a capacidade de executá-lo, proveito e satisfação interna, já são suficientes.
É o momento em que cenouras e chicote encontram nosso terceiro impulso e assim coisas estranhas começam a acontecer. As recompensas tradicionais “se então”, podem nos dar menos daquilo que precisamos: podem eliminar a motivação intrínseca, diminuir o desempenho, embotar a criatividade e solapar o bom comportamento. Pode nos dar ainda mais daquilo que não desejamos: induzir-nos ao comportamento antiético, criar vícios e reforçar o raciocínio de curto prazo. Tais são os bugs de nosso atual sistemas operacional (Pink, 2009:15).
Para Pink, no mundo moderno, onde as pessoas são muito mais bem informadas, preparadas e capacitadas para o mercado de trabalho, uma atualização do software motivacional é preciso. Cenouras e chicotes tendem a perder cada dia mais sua força motivadora. Por isso faz-se necessário um upgrade, um tripé da motivação. O modelo que ele chama de 3.0 possui três elementos essenciais intrínsecos:
1. Autonomia – O desejo de dirigir a própria vida, o que é nossa situação padrão: autônomos e autodirigidos. Infelizmente noções ultrapassadas de “gerência” conspiram, em geral para alterar esse padrão. As pessoas precisam de autonomia sobre a tarefa (aquilo que fazem), o tempo (quando fazem), a equipe (com quem o fazem) e a técnica (como a fazem). Companhias que oferecem autonomia, por vezes, em doses radicais, estão superando seus concorrentes.
2. Excelência – A pressão ou urgência de se tornar cada vez melhor em algo relevante. Enquanto a motivação 2.0 requeria conformidade, a motivação 3.0 exige empenho. E só o empenho produz a excelência. A excelência é um estado mental e requer aptidão para vermos nossas capacidades não como finitas, mas sempre passíveis de melhoria.
3. Propósito – O anseio de fazer o que fazemos em nome de algo superior a nós. Os humanos, por natureza, estão em busca de propósito — uma causa maior e mais duradoura que eles mesmos; sentido.
QUAL MELHOR MODELO DE MOTIVAÇÃO, INTRÍNSECO OU EXTRÍNSECO?
Estamos diante de um dos temas mais discutidos atualmente pela psicologia. É importante dizer que a motivação intrínseca tem tendência a ser mais duradoura do que a motivação extrínseca, no entanto, as duas dependem do meio ambiente. Não adiantará uma ou outra se o ambiente de trabalho ou familiar não colaborar muito.
Existem estudos que defendem que cada um já traz, de alguma forma, dentro de si, suas próprias motivações. Neste viés o que mais importa então, é encontrar e adotar recursos ambientais e organizacionais capazes de não sufocar as forças motivacionais inerentes às próprias pessoas.
Cenouras e chicotes não são de todo ruins. Pink entende que podem ser bem eficazes em tarefas rotineiras baseadas num modelo específico, pelo fato de haver pouca motivação intrínseca a ser mimada e pouca criatividade a ser destruída. Basicamente para tarefas lineares e repetitivas que demandam pouca ou quase nenhuma criatividade.
Prêmios e ameaças podem ainda funcionar, e de fato funcionam na maioria dos lugares. Claro que abrem também espaço para rixas e deslealdade relacional na competição pelos melhores lugares no pódio, mas, muito além de minar o bom comportamento pode debilitar a criatividade eliminando a motivação intrínseca.
Entretanto é apropriado reter a ideia de que, aquilo que nos motiva intrinsecamente, numa dada altura pode também desaparecer, ai talvez a mescla das duas motivações pode ser bem eficaz. As pessoas querem ser parte integrante de um proposito maior, contudo objetivam serem recompensadas meritocraticamente.
O comportamento humano é complexo, e, conhecer os porquês da motivação humana é algo que fascina a todos. Nosso cérebro é seletivo e busca em todo tempo economizar energia. Somos biologicamente condicionados a gostar, estacionar, adaptar-nos a zona de conforto. Estímulos são necessários, e não há dúvidas que as empresas e gestores que se destacam no século XXI, já entendem o momento 3.0 e sabem que cenoura e chicote não são mais suficientes para que o profissional tenha sentimento de dono, empreenda, encante, inove e não o troque por 10% a mais de remuneração no salário.
Neste novo cenário; rápido, intuitivo, disruptivo, sensorial, cibernético, informativo, 3.0. Autonomia, excelência e proposito é a nova ordem mundial. Não basta somente oferecer estímulos externos para motivar a equipe a conquistar e encantar clientes e acionistas, é preciso fazer um upgrade e pensar também de forma disruptiva para atender a demanda motivacional do século XXI.
E aí meu caro (a), para motivar a equipe e a si mesmo, vai ainda investir no folclore de premissas obsoletas não verificadas e enraizadas, ou vai dar crédito a ciência dos comportamentos?!
Até a próxima!
Achiles Rodrigues