“Aqueles que foram vistos dançando, foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música.” [Nietzsche].
Quando Copérnico desenvolveu sua teoria do Heliocentrismo, colocando o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente Teoria Geocêntrica foi chamado de maluco — assim como Darwin com a teoria da evolução, da Vinci com suas pinturas e invenções, Steve Jobs com sua excentricidade e pensamento disruptivo e tantos outros “loucos” para o seu tempo como: Picasso, Santos Dumont, Mile Davis, Bob Dylan, entre muitos outros mais.
Esses caras certamente dançavam uma música que gente “normal” não podia escutar. O que todos eles tinham em comum? Eram inusitados, subversivos, críticos, ousados, questionadores e criativos.
Estamos vivendo um momento muito interessante: o mundo está mudando em velocidade exponencial: quarta revolução industrial — a era da internet das coisas, da informação, impressão 3D, engenharia genética, da inteligência artificial, dos veículos autônomos, da robótica e das máquinas que evoluem…
E está ressurgindo de uma nova maneira. Nunca foi tão necessário novas cabeças: enérgicas, criativas, “malucas” e com um modo de pensar que possa mudar o mundo (mesmo que o seu mundo).
Sempre foi uma escolha de risco assumir uma postura de pensar, ser e fazer de um modo díspar. Basta analisar a biografia daqueles que ousaram pensar exponencialmente, não seguindo a boiada, e, verá que foram classificados como os desajustados, rebeldes, agitadores e malucos.
“As luzes que descobriram as liberdades inventaram também as disciplinas” [Foucaut]
O que acontece com uma sociedade que opta por repetir as mesmas perguntas e comportamentos em um recidivo Efeito Manada?
Para Michel Foucault a escola é uma “instituição de sequestro”, assim como o hospital, o quartel e a prisão. “São instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam, durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos, formatar aquilo que pensam etc.”.
Com um modelo que remete a primeira revolução industrial, a escola, como a conhecemos, nasceu para preparar agricultores para a indústria, formando trabalhadores em série: técnicos e previsíveis. Habilidades como pensamento crítico, raciocínio lógico aguçado, capacidade de inovar, criatividade e flexibilidade para resolver problemas eram marginais.
Precisamos levar o século 21 para a escola. Note que hoje, 200 anos depois, o modelo é o mesmo…
…todos sentados em fila, devidamente uniformizados. Na frente alguém que detém (ou pensa deter) o conhecimento, com todas as respostas prontas escrevendo no quadro negro. Toca a primeira sirene; hora de entrar para estudar. Toca a segunda vez; hora do recreio. Toca a terceira vez; volta do recreio. Toca a quarta vez; hora de ir pra casa.
Qualquer semelhança com uma empresa, quartel militar ou uma cadeia, não é mera coincidência.
Existem 4 PS que matam a criatividade e nos enformam (colocam-nos em um forma), a escola está entre eles: Pai, Padre/Pastor, Professor e Patrão, sendo essa uma singela metáfora para se referir a família, religião, escola e emprego.
Nós nascemos criativos e desaprendemos, ao longo da vida, a sermos criativos.
“O homem criativo não é um homem ao qual se acrescentou algo. Criativo é o homem comum do qual nada se tirou” (Abraham Maslow).
O sistema nos arrancou a capacidade de imaginar, combinar, encantar. Apresentando-nos os protocolos, as respostas prontas, os gabaritos. Assim engaiolaram o pensamento, cortaram as asas da criatividade, engessaram as respostas, desse modo às perguntas soam idiotas.
O que move o mundo são as perguntas, não as respostas!
Edgar Allan Poe escreveu: Muitas pessoas já me caracterizaram como louco”; “Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência.”.
Não só Edgar, mas muitos outros grandes gênios acreditavam que a genialidade e loucura estão intimamente ligadas. Platão apontava para uma espécie de “loucura divina” como base elementar de toda criatividade.
O que separa a genialidade da loucura é uma linha muito tênue.
Não confunda a maluquice genial e criativa que estamos discutindo aqui com patologia psiquiátrica (apesar de estudos empíricos afirmarem que a genialidade possui um forte flerte com a loucura).
Pensar diferente do todo, fora dos padrões, da caixa. Já te coloca na condição de sujeito estrambótico, estranho, excêntrico. A criatividade não está exclusivamente ligada à loucura, mas a coragem de pensar diferente sim.
Coragem para perguntar o que não foi perguntado, criticar o que não foi criticado, ir até onde outros não foram, criar o que não foi criado. Aqueles que assim o fazem serão no mínimo considerados fora dos padrões pré-estabelecidos, logo: um subversivo, excêntrico e maluquinho.
O mundo tem muita gente mais ou menos; nota sete. Seja intenso, seja foda, seja nota dez.
Imagine alguém olhar para lua e pensar que um dia vai pisar lá; que pretensão. Contemplar uma tela vazia e enxergar uma obra de arte como a Monalisa; não é coisa de gente normal. Sentar-se e compor uma sinfonia que nunca fora ouvida antes? Só alguém com um parafuso a menos não é mesmo?!
Malucos são assim — acreditam na possibilidade, na probabilidade, no impossível. Liberte-se das amarras invisíveis do: Sempre foi assim. Do: não pode dar certo porque outros já tentaram e falharam; Já fizeram isso, esquece, ou do: parem com tantas perguntas, as respostas estão nos livros; você não vai conseguir.
A adoção de uma postura questionadora, olhando o mundo com outros olhos e de um novo ponto de vista é o primeiro passo para uma “loucura” necessária, produtiva, cognitiva, próspera e alegradora.
“A loucura é um simples desarranjo, uma simples contradição no interior da razão, que continua presente” (Hegel).
Achar que vai mudar o mundo é coisa de gente meio maluca mesmo, mas “se não for para contribuir com a evolução da humanidade nem quero passar por este mundo”. Se este for o ideal de todo humano, cada qual fazendo sua parte, buscando influenciar, transformar e inspirar o meio onde está — o mundo como conhecemos mudará rápido, e, para melhor.
Para ser maluco, ao ponto de escutar as músicas que os “normais” não escutam, é preciso bravura, preparo, confiança em sim mesmo e desejo de abandonar a mediocridade.
Já dizia o Barão de Itararé: “o que você leva da vida é a vida que você leva”.
Quando você se for e com certeza se vai, que obra vai querer deixar aqui? Como se lembrarão de você? Que importância você terá para as pessoas que aqui ficarão?
Eu sei como quero ser lembrado — um cara à frente do seu tempo, intenso, de personalidade, questionador, subversivo, amigo de todos.
Como queremos ser lembrados permitirá que nos atentemos a vida que estamos levando e talvez descubramos que não estamos vivendo e sim que estamos deixando a vida nos levar. Isso é insanidade.
Se ao pensar em mim alguém disser — esse foi um verdadeiro maluco beleza que dançou sozinho músicas inaudíveis para ouvidos normais, penso que já poderei me dar por feliz, pois terei vivido.
Até a próxima!
Achiles Rodrigues