Não estudei pra isso! Dilemas de uma geração que se acha PHD em tudo. Conto a verdade pra eles ou você conta?

Sair da universidade e logo descolar um trampo legal, em um ambiente que estimule a criatividade, de segunda a quinta, em horário mega flexível, de bermuda, chinelão, com puffs no lugar de cadeiras, tobogã em vez de escadas, realizando um puta trampo que vai mudar o mundo e além de tudo isso recebendo salário, é o sonho de todo jovem da nova geração.

Mas seria essa uma característica apenas da nova geração do milênio, também chamada de Y ou millennials (1985 – 1999)? Ou outras gerações como a X (1965 – 1984), Baby Boomers (1945 – 1964) ou mesmo a Z (a partir de 2000) sempre quiseram e quererão essas coisinhas tão legais?!

Tenho ouvido muitas gentes, lido livros, ouvido discos… Estou convencido que todos, de geração a geração, sempre sonharam, quiseram, deliraram sobre esse tal emprego perfeito logo depois da faculdade. No entanto, estou persuadido pelo que afirmou o tio Platão:

De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar.”

As novas gerações são mais virtuais do que real. Para eles, e-mail é antiguidade e chefe é coisa de índio. Seus ídolos estão na internet ou morreram de overdose e seus inimigos estão no poder (essa foi só para relembrar Ideologia de Cazuza).

Para Cortella, no livro Por que fazemos o que fazemos? A nova geração não tem problema de formação. Ela é ligada à conectividade. Tem um nível de escolaridade que, mesmo que fragilizado, ainda consegue ser ultrapassado. Mas ela chega mal educada no mundo do trabalho, sem percepção de hierarquia.

Ela está acostumada a ser quem subordina os adultos em casa, tanto que há pais e mães que vivem em função dos filhos. Ao mesmo tempo, esta geração não tem necessariamente compromisso com meta e prazo. Abandona coisas com muita facilidade.

Não são como os profissionais de antigamente. E por incrível que pareça: isso é bom (de certa forma tá!)!

A BOA NOTÍCIA: NÃO SE FAZ MAIS PROFISSIONAIS COMO ANTIGAMENTE

Há uma clássica discussão no mundo corporativo sobre não existir mais profissionais como antigamente. Quanto a isso, enquanto alguns lamentam, Eu fico feliz. Claro. O mundo não é o de antigamente.

A revolução da internet derrubou as barreiras e possibilitou conexões com o mundo, criando profissões legais pra caramba: “Youtubers, Vloguers, Bloguer, nômades digitais, gurus da porra toda e mais um monte de outras ocupações que eclodirão logo mais.

Todos viajando enquanto trabalham, ganhando grana e esbanjando felicidade (pelo menos é o que as mídias mostram). Startups de tecnologia prometendo o sonho de liberdade, ONGs buscando mudar a vida de um bilhão de pessoas, empresas consagradas e cheias de conforto como Google, Apple e casa dos pais (casa dos pais foi só pra lembrar que as vezes também é assim. E ainda tem salário/mesada).

Brother, não é só os mais jovens que querem esse estilo de vida maneirão. Eu também quero. Aliás, meu pai quer, minha Vó quer e você que está lendo esse texto certamente.

Não é bem assim que a banda toca. A vida, ah a vida. Essa sim é uma caixinha de surpresas (lembrei do saudoso Joseph Climber).

Mas no mundo da revolução tecnológica precisamos destes caras e minas; subversivos: com espírito empreendedor, ultraconectados, excessivamente confiantes, ligados a tecnologia, que acreditam que podem fazer a diferença e são muito otimistas. Um tanto mimados? Claro, a gente entende, não dá pra ser tudo perfeito não é!

Mas será que o mercado está preparado para a revolução dos PHDs em coisa nenhuma?

O CONTRA-SENSO: O MERCADO NÃO SABE O QUE QUER E QUEM CHEGA SE DECEPCIONA

O mercado quer sangue novo, jovens criativos, que pensam fora da caixa, questionadores do status quo, que oxigenem o negócio. Mas quer também experiência de vida, cicatrizes adquiridas na caminhada corporativa, capacidade de adaptação e de relacionamento.

Coisas que somente a poeira da estrada pode trazer.

A faculdade forneceu conhecimento, informação, formação. O garoto; a garota, sai de lá acreditando estarem prontos, no entanto, logo virão os primeiros desapontamentos, decepções, desencantos, desencontros…

…o ambiente não era o dos sonhos, o horário não tinha aquela flexibilidade toda; as vezes tinha até que estender até tarde. A forma de se vestir é careta; obedece a um Dress code. Não tem Puff. Esqueceram de instalar o tobogã. O trabalho é rotineiro; um meio para outro de maior importância.

Caraca, fazendo isso aqui não vou conseguir mudar o mundo:

“Eu não estudei para isso”

E ESSE PAPO DE “EU NÃO ESTUDEI PARA ISSO”?

Primeira coisa a se fazer diante dessa máxima é entender que a escola do jeito que é está falida. Precisamos levar o século 21 para a escola. O curso de quatro ou cinco anos vai morrer. Aquele papo de: “já acabei meus estudos” não existe mais. A formação é continuada…

Com um modelo que remete a primeira revolução industrial, a escola, como conhecemos, nasceu para preparar agricultores para a indústria, formando trabalhadores em série: técnicos e previsíveis.

Habilidades como pensamento crítico, raciocínio lógico aguçado, capacidade de inovar, criatividade e flexibilidade para resolver problemas eram marginais.

Note que hoje, 200 anos depois, o modelo escolar é o mesmo…

…todos sentados em fila, devidamente uniformizados. Na frente alguém que detém (ou pensa deter) o conhecimento, com todas as respostas prontas escrevendo no quadro negro. Toca a primeira sirene; hora de entrar para estudar, toca a segunda vez; hora do recreio, toca a terceira vez; volta do recreio, toca a quarta vez; hora de ir pra casa.

Qualquer semelhança com uma empresa, quartel militar ou uma cadeia, não é mera coincidência.

Para Michel Foucault a escola é uma “instituição de sequestro”, assim como o hospital, o quartel e a prisão. “São instituições que retiram compulsoriamente os indivíduos do espaço familiar ou social mais amplo e os internam durante um período longo, para moldar suas condutas, disciplinar seus comportamentos, formatar aquilo que pensam”.

Não atende mais a demanda moderna, que é muito mais rápida, intuitiva, tecnológica e relacional.

Eu não estudei para o que mesmo?

OS DESAFIOS PARA ESSA NOVA GERAÇÃO

Não existe bala de prata quando o assunto é liderança e motivação para a nova geração. Quem acha que está punk atender aos anseios da geração Y, pense como serão as expectativas da Z, sucessores da geração do milênio.

Essa galera vai começar entrar no mercado agora, vindo com uma visão de mundo totalmente diferente das outras gerações: são nativos digitais, super-conectados, pragmáticos, mais independentes para aprender e trabalhar: os YouTubers são seus professores. São multitarefeiros, confiantes, dinâmicos, exigentes, não gostam de ser contrariados e claro, são mais ansiosos.

Vídeocassete, disquete, lista telefônica, guia de ruas, toca CDs ou qualquer outra parafernália que não esteja na nuvem não faz parte de seu repertório. Com dificuldade em receber nãos, são emocionalmente frágeis com necessidade narcísicas de se sentirem incluídos.

Sem qualquer apego pelo físico, valorizam o acesso em detrimento da posse: pra que ter carro se existe Uber. Por que precisaria comprar uma casa se o Airbnb está aí. Comprar um filme é algo jurássico, afinal, tudo está na Netflix e Youtube.

São totalmente desapegados ao ter, o que vale é a experiência.

Esqueça a famosa motivação cenoura e chicote, ela não funcionará. Obedecer a uma hierarquia tem outra conotação: tudo é mais horizontalizado e colaborativo. Com um Mindset de rede, pois cresceram nas redes sociais, tem senso de comunidade e valorizam a diversidade.

No trabalho, como previu Cortella, esbarram na incapacidade de reconhecer hierarquias e trabalhar com prazos e metas. Exigem transparência e comunicação aberta, com follow-ups frequentes e maior proximidade com quem toma as decisões. Querem se sentir parte do todo.

A convivência intergeracional está sendo e ainda será um dos maiores desafios da gestão. Nessa transição onde os Baby Boomers que, por estarem vivendo mais saem cada vez mais tarde das cadeiras de gestão e os millennials ocupando cada vez mais os cargos de liderança, a geração Z chega cheia de energia e e expectativas para serem desconstruídas.

Desconstruídas? Claro. Pois acreditam que chegam prontos e cheios de razões e direitos. Mas a vida, ah a vida (já falei né?! Desculpe-me)!

Repito o que disse o grande tio Platão:

De todos os animais selvagens, o homem jovem é o mais difícil de domar.”

Arrisco a dizer duas coisas a partir da constatação de alguém que vive a vida corporativa. Um recado para as empresas e outro para os profissionais:

  1. 95% das empresas não estão preparadas para toda essa mudança. O que é perigosíssimo. É preciso se preparar com lideranças fortes. A mudança está dada, está acontecendo. Abrace-a ou seja atropelada por eles.
  2. Não existe romantismo no business. Expertise, know how, Soft skills são mais importantes que seu diploma. Ah, e não tem esse papo de “Eu não estudei para isso“. Você nunca mais vai parar de se atualizar e humildade sempre vai preceder a honra.

Vamos continuar acreditando no trabalho dos sonhos com todas as coisas legais que ele oferece. Mas lembre-se de que essa é a realidade de menos de 1% das empresas e pessoas. Na outra parte, tem trabalho duro e com gente com mais experiência que você. Diferente do que você sonhou. Mas você chegará lá…

Mas chegue na miudinha, pedindo licença, trabalhando duro e torcendo para a oportunidade chegar. Mais um coisa: a hora que a oportunidade chegar, esteja preparado para ela, pois se não estiver: outro estará.

Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.

– Aristóteles

Até a próxima!

Written by: Achiles

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