Em um momento econômico/político delicado como o que vivemos, é vital que se encontre o custo ideal. Em contrapartida, é substancial ter serviços e produtos de qualidade para se manter em um mercado de tão acirrada competição. Diante desse dualismo, equacionar a conta requer gestão de alto nível.
Existem empresas que, diante da pressão do mercado desesperam-se e “cortam geral”. Começam por pessoas, trocam fornecedores, congelam investimentos, chegando até a diminuir a qualidade do serviço ou produto.
Muita cautela. O gestor deve estar “antenado” para não cair nessa armadilha.
Cortar custos a “qualquer custo” não é saudável, é preciso encontrar alternativas, como gerir a rotina de forma mais assertiva e, assim, maximizar a produtividade da equipe, melhorar o desempenho dos processos, identificando as fontes de desperdício e fechar a torneira das perdas.
Quer saber como?! Vamos lá…
Quando as vacas estão gordas, tudo vai bem. O dinheiro sai pelo ladrão. Departamentos são inflados, investimentos equivocados são feitos, equipamentos são adquiridos sem necessidade, contas são pagas sem auditoria, materiais são comprados no primeiro orçamento e assim por diante.
Porém, a água bate lá, você sabe onde, e a crise se instala. Desesperadamente, o patrão começa a gritar nos ouvidos de todos os gestores do negócio: “CORTEM OS GASTOS, REDUZAM OS CUSTOS, CONGELEM OS INVESTIMENTOS”.
Esse momento de crise é perigosíssimo. Facilmente, podem-se “meter os pés pelas mãos”. Ela chegou em meados de 2014 e os especialistas a chamaram de “a segunda pior crise da história“. Desde os anos 1930, não havia recuo do Produto Interno Bruto (PIB) em dois anos seguidos.
O ano de 2017, que esperávamos ser o “ano da salvação”; se revelou um verdadeiro caos. Devido ao que está acontecendo com todo esse agravamento do cenário político. Será mesmo o fim do mundo? Nome muito criativo esse que a Polícia Federal deu para essa mega delação que caguetou geral não foi mesmo? Espero que o Brasil sobreviva (palavras do juiz Sérgio Moro).
Esse é o momento de “pensar fora da caixa’ ou expandir a caixa, criando oportunidades internamente. O papel dos gestores nunca foi tão importante. É o momento do protagonismo individual e o trabalho em equipe.
O líder deve motivar o time a identificar as perdas e fazer mais com menos. Perseguir o resultado com foco no objetivo, mas sem se esquecer da segurança e da ética.
A mentalidade de reduzir os custos está correta; esse é o mindset que todo gestor e suas equipes devem ter. Entretanto, cautela é preciso, pois existem custos que não podem ser cortados. São investimento que garantem o crescimento e fortalecimento do negócio, e a evolução de produtos e serviços para fidelização dos clientes.
Seguem alguns exemplos:
Marketing: Não há para acabar com o orçamento do departamento. O que pode se fazer é direcionar melhor os recursos para campanhas mais efetivas. Aquele antigo apelo a uma mídia de massa talvez não faça mais sentido. Focar em seu nicho de clientes talvez seja o melhor caminho. Para isso, existem agências especializadas em identificar onde seu publico está (mídias sociais, revistas especializadas, horários específicos da TV e etc.). Canalize os recursos, mas não corte;
Tecnologia: Em tempos de quarta revolução industrial, em que termos, como indústria 4.0 e logística 4.0, estão em alta, não dá para cortar custos com tecnologia, principalmente, se seu negócio for serviço. A tecnologia pode separar os homens dos meninos. Permita-me fazer apenas uma ressalva: invista no que já é realidade e sucesso em outros negócios. Não é hora de apostar em nada embrionário;
Pessoas: Quando a recessão bate na porta, percebe-se a taxa de desemprego ir às alturas. Empresas demitem, às vezes, sem muito critério. Por exemplo, o funcionário estava desempenhando um papel que alguém julgou não ser muito importante (mas se não era importante, porque foi contratado?). Outra pessoa absorve a função? Fará com a mesma qualidade? Como saber.
Se pessoas são caras para contratar, para demitir, são ainda mais: treinamento, equipamentos, salários, tributação, rescisão e etc. É preciso não se esquecer de que o capital o humano é quem faz e fará o negócio prosperar.
Pessoas são a chave para o sucesso de qualquer companhia, logo, não é possível cortar custos com aquelas que são excelentes. Se ainda não são, não há como cortar custos com treinamentos e preparação do time. Quer ser uma empresa de ponta? Tenha pessoas de ponta em seu time.
Redução de desperdícios.
Quais os principais desperdícios?
Parece brincadeira, mas as empresas vivem dilemas, como não saber quais são os desperdícios. Não acredita? Pasme então, pois a maioria das empresas “resolve” problemas sem saber exatamente qual é o problema. Ficou tautológico? Tentarei exemplificar:
As entregas logísticas não são realizadas no dia, conforme programado. Qual é o problema?
Alguém pode dizer:
Pode ser tudo isso. Bem como pode ser que:
Enfim, pode ser milhares de coisas que acabam ocasionando muitos desperdícios.
O exemplo ficou confuso?
Pode-se emprestar então o conceito usado na filosofia Lean: Os sete desperdícios (com algumas alterações minhas).
A filosofia Lean (lean thinking), empresa enxuta e mentalidade enxuta, nasceu do Sistema Toyota de Produção. Apesar de esses desperdícios terem sido identificados na produção de automóveis, eles valem para qualquer tipo de negócio.
1. Superprodução – Nunca produza mais do que o necessário. Na logística, o problema pode ser causado por capacidade excessiva de equipamentos ou de pessoal, como excesso de ativos por mau dimensionamento etc;
2. Estoque – Estoque é dinheiro parado, seja na compra de materiais ou na produção. Acabe com os estoques ou, pelo menos, reduza-o ao mínimo;
3. Espera – A espera é um gargalo e acontece quando pessoas e ativos estão aguardando para carga ou descarga, a definição de cargas a separar, a espera para ser atendido na porta do cliente etc, o que pode ocasionar ociosidade humana ou de equipamentos ou dos dois juntos. Traduzindo-se em falta de planejamento e ação;
4. Retrabalho – Erros de processos manuais, nome do cliente impresso errado no pedido, digitação errada, erro de separação, carregamento e entrega, entre outros. Todo o erro que leva a um retrabalho é desperdício. Fazer uma vez já custa caro, refazer, reentregar ou consertar é muito mais caro e estressante;
5. Processos mal definidos – Só existe uma perda maior que um processo mal definido, não ter processo algum. Seus processos devem estar claros e operacionalizados. Processo é tudo em uma operação logística;
6. Transporte – Esse é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores motivos de perdas na logística: movimentação desnecessária (levar a carga para passear), ociosidade (veículo com carga menor que sua capacidade), perda de janela de entrega, roteirização mal feita, negociação equivocada, layout mal dimensionado etc;
7. Má utilização do capital Humano – Não utilizar completamente a capacidade das pessoas, trata-las como robôs, não envolvê-las nos processos de melhorias, não dar a correta atribuição ou orientação e trabalho desigual. Cuide bem do time, ele pode elevar ou acabar com os números.
Ouça mais quem está na operação: Essas pessoas são os reis da operação. Subestimá-las é bobeira. Vá até elas e ouça o que pensam da operação, gestão, empresa e clientes. Você será surpreendido;
Implante Key Performance Indicators (KPIs): Indicadores chaves de performance poderão nortear as suas decisões. Não se gerencia o que não se mede;
Estabeleça metas: Onde se deseja chegar, qual a meta de semana, mês, ano? Quem não sabe aonde quer ir, qualquer caminho serve, inclusive, o da falência;
Adote ferramentas de melhoria contínua: Melhor, tenha no seu DNA a filosofia e muitas ferramentas: 5S, gestão à vista, ciclo Plan – Do – Check – Act (PDCA), 5w2h, otimização de layout, Just-in-time, trabalho padrão, sincronização do fluxo de produção, espinha de peixe, qualidade na fonte, troca rápida de ferramenta, armazenamento no ponto de uso, produção puxada e Kanban, produção celular e manutenção produtiva total. Enfim, escolha a melhor para seu negócio;
Remunere por variável: O ser humano se movimenta por recompensa. A mente desenvolve gatilhos que motivam a busca por um resultado. Assim, pague o fixo, mas estabeleça um prêmio para aqueles que chegarem à meta (promoção, bônus, participação nos resultados).
Tem muita coisa que você pode fazer, apenas não fique sem fazer nada
O fundamental é ter um olhar crítico sobre os processos da empresa, objetivando enxergar os desperdícios e eliminá-los.
Esqueça e redução de custos e foque toda sua energia em reduzir os desperdícios, que a redução de custos será uma consequência natural de todas as suas ações.
Até a próxima!
Achiles Rodrigues