Resisto, persisto, insisto em ainda usar o velho e bom Android — meus amigos adoradores da entidade Jobs, verdadeiros viciados em Apple, me acham esquisito. Não só pelo fato de não usar um iOS, com isso eles conseguem conviver, mas por escrever em um Macbook e usar um Samsung como aparelho celular.
Eu tento explicar pros caras que gosto do Android — mais opções de Apps gratuitos, mais intuitivo e mais barato também. Nem sempre cola. Acho que no fundo mesmo é só uma questão de costume e desejo de fugir da modinha iPhone.
Por outro lado, sigo resistindo ao iPhone, mas flertando com o Mac: design arrojado, processamento rápido e bateria com duração de mais de doze horas, ele é a maquina perfeita para quem gosta de escrever (merchan pra Apple? Não. Mas bem que poderia ser hehehe)
Tento me redimir pra ficar bem na fita com eles:
— Tá vendo só, também sou um tipo de súdito do Jobs. Claro que não adianta. Continuam me achando um estrambótico. Talvez eu seja mesmo.
Não sei se você gosta ou não do Steve Jobs. Mesmo não gostando, não da pra negar que o cara era diferente. Basta dar um Google e logo a Wikipédia dirá que ele revolucionou seis indústrias: computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicações digitais.
Gênio? Não tenho certeza. Meus interlocutores dirão que sim. Subversivo? Criativo? Ah isso ele era. Aliás, essas características são intrínsecas àqueles que mudam e si próprios e são capazes de transformar o status quo.
Que Jobs era o cara da criação e inovação não restam dúvidas. São dezenas de livros, milhares de artigos e muuuuitos filmes (não sei quantos) dedicados a sua excentricidade genial. O mano tinha contexto (é o que diria o baiano, dono do morro em tropa de Elite) resultados, frutos, história. Ponto final.
E o que aconteceu com Jobs que vem de encontro ao nosso tema aqui?
FOI DEMITIDO!
Nem sei se você tinha nascido. Em 1985 após uma série de atritos entre os diretores, Jobs foi demitido da Apple, empresa que ele mesmo criou. E mais de três décadas depois, nada parece ter mudado:
As empresas continuam querendo inovação, mas demitindo os inovadores.
A necessidade de inovar está presente no discurso de toda e qualquer corporação. Afinal, em tempos de quarta revolução industrial, a síndrome de Gabriela (“Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim…Gabrieeela”) nem de longe faz sentido no mundo contemporâneo muito menos no do porvir.
O mundo mudou, está mudando e continuará em mudança exponencial. Com a internet das coisas estima-se que mais de 9 bilhões de dispositivos estejam conectados e em uso. O que além de mudar o comportamento da sociedade, possibilita objetos mais autônomos.
O que é extremamente importante para termos cidades, indústrias, residências e serviços mais inteligentes e em evolução.
Estamos presenciando uma era onde máquinas aprendem e evoluem — o Machine learning é um método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos. Um ramo da inteligência artificial que se baseia na ideia de que sistemas podem aprender com dados, identificar padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana.
Sem falar em computação em nuvem permitindo grandes capacidades computacionais, soluções de big data que possibilitam analisar grandes quantidades de dados. Evolução dos algoritmos de inteligência artificial, etcetera, etcetera e etcetera.
“A única constante é a mudança”. Era o que dizia no século V a.C. Heráclito de Éfeso, chamado de o pai da dialética.
Mas como nos comportar diante de tanta novidade se o novo costuma nos apavorar?
As implicações do desconhecido, mesmo sem saber exatamente quais são, costumam paralisar nobres e plebeus, livres e escravos, pessoas físicas e jurídicas.
O que é perigosíssimo para pessoas e negócios, pois, quem tem medo de perder o que tem, nunca estará apto à conquistar o que deseja.
Você deve saber que aquele que se recusar a mudar estará fadado ao que costumeiramente é chamado de fenômeno Kodak não é mesmo?!
Quem não conhece a história?!
Empresa centenária, pioneira da fotografia que parou no tempo, era líder no mercado de máquinas e filmes fotográficos, mas abriu falência em 2012 com o advento das fotos digitais.
No final da década de 70, a Kodak tinha 90% das vendas de filmes e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos, o principal mercado do mundo. Com uma presença global fortíssima ela empregava 100.000 pessoas e faturava bilhões.
A história por trás da falência da Kodak diz que em 1975, um funcionário chamado Steve Sasson apresentou o primeiro projeto de câmera digital para a empresa, mas os diretores não o aprovaram.
Ou seja, a empresa faliu por pura falta de inovação. Ou melhor, por não acreditar nos profissionais que contratou para inovar!
Um caso clássico de resistência ao novo que levou uma gigante a falência.
Faça um exercício. Nas próximas vezes que estiver em uma reunião observe bem. Você ouvirá sobre a necessidade de pensar fora da caixa, inovar, criar vantagem competitiva e outros clichês (clichê é bom. Por ser bom é que se tornou clichê).
Mas basta alguém vir com uma ideia mais inovadora pra logo ouvir: tem certeza? Onde você viu isso funcionar? Na nossa empresa já tivemos muitos erros, isso aí não dá certo.
Ou até:
— É um sonhador mesmo. Tá viajando na maionese. Vamos lá pessoal; ideias inovadoras de verdade, não coisas de outro planeta…
Inovação sim, inovadores não.
Não estamos e nunca estaremos prontos para os gênios. Quando eles trazem ideias inovadoras como: estocar vento, saudar a mandioca ou deixar a meta aberta para quando batê-la; dobrar a meta, o que nós fazemos com eles?
Mandamos embora, pedimos o impeachment. [desculpa, não resisti, lembrei de nossa ex presidenta. Prometo voltar mais sério no próximo parágrafo].
O fenômeno Kodak ou outros como Nokia e Yahoo; apavoram CEOs e gerentes em tempos atuais. E devem apavorar mesmo.
Se reinventar, criar vantagem competitiva, fazer mais com menos, reduzir custos, melhorar a qualidade, encantar os clientes e, tudo isso com um clima organizacional ético, claro e motivador, não pode ser um discurso apenas.
As empresas que vão sobreviver aos anos que virão, serão aquelas que conseguirem inovar nesses moldes.
Para ser a nova Netflix, Nubank, Uber ou Airbnb do seu setor e, ter os resultados que nunca teve, é preciso fazer diferente, de um modo nunca feito antes. Não basta apenas querer.
Empresas são feitas por pessoas. Aliás, tudo são pessoas: quem compra, quem vende, quem entrega, quem produz. Logo, o segredo para um negócio inovador e de sucesso são pessoas.
E existem três estilos de profissionais em uma empresa:
Qual funcionário você é?
Qual funcionário você quer em sua equipe?
Todos os três são necessários. Uma empresa só com funcionários que deixam acontecer e aqueles que “carrega o piano vai a falência em três anos; uma empresa só com questionadores irá a falência em três meses. (Walter Longo).
É preciso ter todos. O mix deve ser encontrado: 15% que fazem acontecer, 60% que deixam acontecer e 25% que perguntam o que aconteceu! (será?)
Existe uma máxima que diz que: “pessoas são contratadas por suas competências técnicas e demitidas por mau comportamento“. O que é a mais pura verdade. Contudo existe um sério problema no entendimento de quem é quem.
Funcionários criativos e inovadores são inquietos, inconformados com o status quo, provocativos e questionadores. Comportamentos vitais para sacudir o “mofo” de uma gestão obsoleta.
Mas podem ser facilmente confundidos com pessoas portadoras de DPT: doenças profissionalmente transmissíveis. Não são. Pelo contrário.
Como acabam por incomodar a maioria dos chefes e empresas, podem ser equiparados a anarquistas (o que não deveria ser ruim), pois, questionam, perguntam porquê, falam e fazem de maneira diferente. Se comportam como são na vida real; sem as mascaras corporativas. Mas tudo por um desejo genuíno de transformar o negócio.
Não demora muito para que sejam engaiolados:
Aqui fazemos de outro jeito. Controles internos nunca permitiria. Nosso jurídico não autoriza. Sempre fizemos assim. Você é muito novo, te falta experiência. O diretor não vai gostar. Desenha o projeto pra gente vê no que dá. Já tentamos fazer assim uma vez e deu errado…
E no momento em que se vêem sem a condição necessária para “voar”, quando não são demitidas por “mau comportamento”, na primeira oportunidade vão embora, se demitem. E vão em busca de um local que as deixem inovar de verdade.
Essa é uma faca de dois legumes, como diriam as Mamonas Assassinas (os mais jovens não se lembrarão da banda): equilibrar a gestão de um negócio tradicional com o novo momento é saber como lhe dar com perfis arrojados, modernos e às vezes pentelho.
O que certamente é mais complicado que decidir entre Android ou iOS; Apple ou Samsung.
De qualquer modo, oxigenar o negócio com gente boa, de mente criativa e alma corajosa é basal para sobreviver no mundo moderno. Para isso, líderes e empresas devem se preparar para ir além das críticas ou engaiolamento aos mais subversivos.
E você, o que pensa sobre isso?
Até à próxima!