Mais do que acabar com a meritocracia, tratar pessoas diferentes como iguais é uma atitude de risco que leva ao desengajamento, mata a criatividade e desencoraja o protagonismo.
Isso porque, não há nada tão desigual como ter a pretensão de tratar com igualdade pessoas completamente diferentes (Flávio Augusto).
Aliás, esse é um conceito abordado por Aristóteles no século V antes de Cristo (atribuído também a Ruy Barbosa quando definiu o princípio de Equidade):
Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.
Aristóteles em Ética a Nicômano (Brasília: UnB, 1999, p. 95-6 Aristóteles) deixa claro que pessoas iguais recebendo quinhões desiguais, ou pessoas desiguais recebendo quinhões iguais, é o que da origem querelas e queixas.
Quanto mais tempo eu passo em cargos de liderança, mais eu entendo a necessidade de gestão de pessoas customizada e situacional.
Cada profissional é único em estilo, potencial, talento, engajamento e expectativas. Desse modo, enquadrar todos no mesmo modelo de cobrança, premiação e até mesmo de abordagem, é um erro primário.
[…] Abro aqui um parêntese para dizer que o texto não busca ferir o princípio da isonomia. Muito menos motivar disparidade no tratamento ou qualquer outro tipo de injustiça. Pelo contrário. A ideia é oposta…
Neste artigo estamos tratando de meritocracia, reconhecimento, gestão de talentos e equipes no mundo corporativo, nos esportes ou em qualquer outra área estratégica…
Continue lendo e surpreenda-se. Se necessário, mude a rota, seja você um líder ou um liderado.
Um dos motivos principais do desengajamento e até do abandono da organização é exatamente o modelo adotado pela liderança. Aliás, já escrevi sobre esse tema, mas parece que ele não se esgota, uma vez que líderes “ruins” parecem dar em árvores.
Pense comigo…
Se o técnico do Neymar ou do Cristiano Ronaldo usar a política do: todos são tratados como iguais aqui, ele os teria em seu time por mais de uma temporada?
Penso que não.
E não é porque os jogadores são malas, marrentos e talls, mas porque entregam mais que a maioria e, quando entram em campo resolvem a parada toda. Ou seja, comparados ao “plantel” de jogadores, são desiguais.
Você concorda que aquele que tem pensamento mais crítico, habilidades mais raras, boa interface entre áreas, maior facilidade de relacionamento entre hierarquias, influência sobre as pessoas, liderança mais aflorada e consequentemente melhor entrega, merece melhor quinhão que aquele que não tem essas qualidades?
Stacy Adams (1965), quando desenvolveu a teoria de equidade, propunha que funcionários observam o que possuem na organização (salários, benefícios, promoções, méritos) com suas competências (experiência, escolaridade, empenho) fazendo uma equiparação com funcionários que exercem a mesma função ou similar.[1]
Através deste julgamento os indivíduos buscam observar se existe um nível de igualdade entre seus benefícios em comparação aos demais, para determinar se há equidade entre suas competências e função a outro indivíduo com competências parecidas e que desempenham funções similares e julgam através desta percepção se a consideram justa.
Assim, a injustiça só estará presente se os profissionais forem iguais em competências e, os salários e benefícios forem diferentes. O contrário também é verdadeiro.
Mas, se no momento da compração, for verificado a legítima desigualdade, esses profissionais entenderão que para se equiparar, deverão se preparar melhor, buscar mentoria, desenvolver novas habilidades, enfim, sair da zona de conforto.
Foi o que disse o mestre Rui Barbosa (espero não distorcer o seu texto tirando-o do contexto). Ele falou mais ou menos assim:
Mas, se não se pode igualar os desiguais, cada um, nos limites da sua energia moral, pode reagir sobre as desigualdades nativas, pela educação, atividade e perseverança.
Como já mencionei no inicio do texto, não há nada tão desigual como ter a pretensão de tratar com igualdade pessoas completamente diferentes. Na verdade, a diferença, superação e pluralidade devem ser encorajadas. Mas também reconhecida, dando a cada um seu quinhão de direito.
Assim como igualar os desiguais é perigoso, desigualar os iguais também o é.
É questão de justiça, equidade e paridade, dar a cada pessoa aquilo que merece segundo o seu talento, empenho e entrega.
Quando o líder faz isso, mantém o engajamento dos desiguais e manda um recado para os iguais, ou seja, aqueles que estão aquém, devem se esforçar para sair da média.
Como fazê-lo?
O líder tem que ter a sensibilidade necessária para saber como gerir sua equipe de modo a encantar e motivar, iluminando o caminho.
Conversas, alinhamentos, discussão técnicas e comportamentais, ou outros temas de interesse do profissional, e, consequentemente da empresa, devem ser pauta corriqueira na agenda.
Trago três dicas vitais para conseguir desigualar os desiguais e fazer os iguais quererem se diferenciar:
1. Relacionamento com o time: liderar a distância não rola mesmo. O líder tem que ter cheiro de gente. Deve estar perto. à disposição. Não espere que a data protocolo da conversa chegue para bater aquele papo. Provoque conversas semanais e se aproxime do coração do time.
2. Escutatória: Rubem Alves brincava, mas de forma muita séria, que, há uma grande oferta de cursos de oratória, contudo, o que falta de fato são cursos de escutatória. Saber ouvir é uma arte. Oficio utilizado por lideres excelentes. Ouça seu time sempre. Seu primeiro idioma é o Silêncio. Seja fluente nele. Mahesh.
3. Leitura de ambiente e pessoas:ser um bom observador é uma pratica difícil, mas eficaz em todas as áreas da vida. Se a dica dois for colocada em prática, o líder conseguirá com maior facilidade fazer uma leitura mais eficaz do ambiente e da equipe. De qualquer modo, se empenhar nesse aprendizado, mudará sua gestão trazendo muito mais ferramentas.
Enfim, uma liderança que trata de forma igual a todos os integrantes de uma equipe, tende a fracassar, visto que cada pessoa é diferente em sua forma de ver o mundo, formação, cultura e valores.
A intensão do artigo não é esgotar o tema, mas te levar a reflexão e provocar o diálogo.
O que você acha disso tudo?
Até a próxima!